PESQUISA
DOUTORADO
Entre Tempos da Cidade
Conflitos espaço-temporais e processos de absorção
Como as formas de apreensão espaço-temporal contemporâneas têm moldado nossas cidades? O surgimento e consolidação das TICs e das redes de transporte trouxeram a globalização, reforçando fluxos cada vez mais acelerados e experiências mais instantâneas; o capitalismo, flexível no tempo e no espaço, expandiu seu poder de dominação através de alianças políticas. Diante desses fenômenos, o sujeito contemporâneo adaptou seus comportamentos e formas de se relacionar com o espaço e o tempo urbanos: através da volatilidade e descartabilidade dos vínculos (espaciais, profissionais e pessoais), reforçadas por uma hegemonia neoliberal, e consolidadas como estilo de vida; e da busca por experiências e prazeres momentâneos (imediatos), como uma expansão do consumismo a outras esferas de sua vida. Logo, se o espaço urbano é o espaço do conflito e da multiplicidade, ele contemplará dinâmicas e normativas sociais, culturais, políticas e econômicas que se diferenciarão não só entre si, mas entre suas temporalidades.
Novos processos de criação do urbano têm se baseado nos padrões temporais da sociedade contemporânea para criarem alternativas de experiências (na vida pública e privada), como contrapartidas paradoxalmente insurgentes e neutralizadora que, simultaneamente, questionam os tempos acelerados e efêmeros do cotidiano, e reforçam-nos através de sua absorção. Um habitar urbano cada vez mais parcializado (dividido entre distintas localidades e temporalidades) irá readequar hábitos sociais, comprimindo o espaço da vida privada (em microhabitações de microtemporalidades), e distribuindo parte de suas tarefas e experiências na forma de serviços e espaços da vida pública. Esta vida pública, inclusive, se verá diante de formas representativas de um tempo complexo e imprevisível, que só pode ser controlado em parcelas mais instantâneas e pontuais, construindo-se, assim, espaços e relações que se dão a partir de contratos com prazos de validade pré-definidos (na forma de intervenções urbanas e de regulações de usos temporários).
Este trabalho busca questionar os novos territórios de domínio explorados pelas forças hegemônicas que, além de transformarem o espaço urbano em mercadoria, utilizam seu tempo como um bem de negociação.